Desabafo nº2
Vinte e cinco anos dedicados à Educação Especial. Comecei ao mesmo tempo que encerravam as últimas classes especiais. Tenho uma sensação de deja vu ao assistir à proliferação de unidades especiais, apesar de aceitar que constituem uma resposta adequada para alguns alunos. Pelo caminho, Salamanca e o boom da educação inclusiva. A ideia de mudar a escola para responder a todos os alunos que resisto a abandonar está a tornar-se cada dia mais difícil de colocar em prática, porque há um limite na capacidade de remar contra a maré.
A introdução forçada de instrumentos de trabalho cuja eficácia está para se provar e que resultam em processos morosos desenvolvidos por equipas multidisciplinares inexistentes, juntamente com a redução significativa do número de docentes de educação especial, tornou extremamente difícil um trabalho que já de si não tem visibilidade que corresponda à sua importância e ao investimento diário, num sistema que progressivamente valoriza mais os resultados do que o processo, que fala em diferenciação pedagógica mas exige as mesmas metas e vai reduzindo as possibilidades de alunos diferentes mostrarem o que sabem de forma diferente e com recurso a apoio acrescido.
Apesar de todas as dificuldades, provavelmente aquilo que me causa maior mal-estar é assistir na minha escola a uma grande quantidade de alunos em grandes dificuldades, que mostrando embora um nível de funcionalidade extremamente limitado e comprometimento grave da sua aprendizagem, não são considerados elegíveis para educação especial, mesmo após terem sido implementadas todas as medidas ao alcance dos seus professores. Foi a estes que falhámos.
Ana Godinho